Recentemente li o livro Hospício é Deus da autora Maura
Lopes Cançado, um livro objetivo, sincero, realista e desmedido em suas
revelações. O livro narra a própria história de Maura dentro do hospício, com a
visão e convivência da narradora nessa outra realidade distante das
pessoas “sãs e normais”. Maura descreve
e denuncia as condições precárias do
hospício, sendo ele particular ou público. O tratamento desumano dos funcionários
com os pacientes, os mesmos vistos como “loucos”, a falta de identidade,
privacidade, respeito, desamor, o descaso e a negligência de como os
pacientes são tratados por aqueles que supostamente deveriam oferecer
condições para uma melhora psiquica e
emocional.
Maura conta
a sua própria história, entrelaçando com outras histórias marcantes de pessoas
únicas e significativas em sua caminhada. Narra os fatos ocupando dois
personagens na narração, um personagem como testemunha ocular das agressões,
hostilidades e morte de outras pessoas que dividiram o mesmo local que Maura e
o outro personagem como protagonista da sua própria realidade e vida, sem
dubles, sem maquiagem, sem príncipe encantado para salvá-la do sistema malvado
e principalmente sem o seu final feliz.
No livro a
autora denuncia situações que poucas pessoas imaginam que possam acontecer fora
da sua área de conforto, e principalmente em um lugar perto de todos nós,
acreditamos que esse lugar serve para ajudar a pessoa portadora de determinada
doença ou transtorno ou síndrome e que tenham um preparamento físico e
emocional para saber lidar com essa realidade tão diferenciada e carente de
cuidados. Afinal de contas quem é o “louco” afinal? Eles que falam e fazem tudo
sem fingimento e sem nenhuma máscara cobrindo o seu eu ou nós que todo o dia
e todo o tempo usamos máscara para encobrir o nosso verdadeiro eu?
Hospício
Segui o avental branco
No corredor aceso
E esticado
Como um farol
Vim porque quis
E aqui estou
Inteira
Completa
Nua
Sempre supus
Que algum lugar
Me coubesse
E me dispensasse
A lucidez
O intervalo da vida
É aqui
É só querer ser
E se é
Já aceita
Quase compreendida.
Tive que vir
Porque aqui sou pura
E leve
Sem realidades
Esbanjando sonhos
Livremente
Vera Brant
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